terça-feira, 1 de junho de 2021

joana, a louca, faz amor com (deita-se com/conhece) seu marido morto

 

(Doña Juana la Loca (1877), de Francisco Pradilla y Ortiz)



eu joguei a terra sobre teu corpo pútrido

para que nele germinasse a vida

como um grão germina,

e a vida veio,

ainda que não tão bela.

mas a beleza é humana, como a morte;

tudo à volta fenece,

só o teu olho, ao não mover,

o teu cenho úmido polido outrora

atesta o roubo,

roubaram-te a centelha,

mas não permitirei que te roubem as carnes;

quão egoísta tu fosses! a vida mesma coroou-te rei

e ei-la dispersa abraçando a gema,

multiplicada no manto ácido corroendo-te as faces.

não és mais uno, porém persistes vivo nestes mil corpos

caminhando sobre o meu,

e me sussurras no gozo:

a morte nada mais é que uma das formas

de amor.


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