aos jesuítas
eu me iludi por muitos tempos julgando-te mais próximo de
mim
nos movimentos, no vento, no caminhar, nos passos dados,
nas marés
acotovelando-se,
eu iludi-me achando que a cada onda o mar iria ser mais
próximo de mim.
até que me tragasse e me fizesse onda, sereia,
ou espuma roçando a areia.
eu até fecundei a orla com
um bastão. dediquei-lhe, senhor, palavras
afogadas nas salinas do mar
dessas águas, senhor,
serei eu indigno?
senhor,
este teu servo deitou-se durante dias e noites à beira de teu ventre
e
estas águas tão-somente mantiveram-se distantes, circunspectas,
impassíveis ao meu silêncio
(não respondido), às minhas súplicas (desesperadas)
eu ignoro,
eu ignoro, senhor, porque não me recebes em tuas águas,
porque não me comunga os pulmões,
ignoro o porquê deste mar
vasto sobre quem caminhei com pernas de raízes decepadas
ignora-me,
logo a mim, senhor, a mim
querendo estar dentro de ti em sua divindade,
compartilhar
de sua luz. eu, aos pés de teus pés à espreita, estirado,
em silêncio, em oração,
em espera.
espero as águas ascendentes
das marés, espero os teus braços molhando
minha túnica, conduzindo-me
ao teu interior. sim, o teu dentro.
pois onde mais podes estar,
senhor,
senão nestas vagas, serenas
águas do mar?
senhor, não te afastes
assim. não me exijas a temperança,
a exaustão, a contemplação;
duas ou três vezes vi seus olhos distantes
e não pude ler nos olhos mortos deste
homem afogado, senhor, que eram teus olhos,
mortos, olhos além dos
homens, olhos daquele que hoje habita o seu lado.
senhor, eu me deitarei aqui
agora, e permanecerei para todo o meu sempre
que
eu sei pouco perante a eternidade a quem pertences, mas serei como ti,
o
homem de olhos umedecidos por suas águas, o homem transfigurado como tu
o homem que vestiste em um
manto de algas, o homem, ah, senhor, isso,
me abraça, a tua túnica é
fria, a tua morada é longínqua, eu o
vejo melhor agora, ele tem
os olhos marejados. isso senhor,
cega meus olhos para tudo o
que não for teu, me leva à
luz do teu amor
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