quinta-feira, 3 de junho de 2021

Naja

(Camille Claudel - reflexão profunda, 1898)
 




a vida é feia,

menina de olhos estrábicos,

vemos em dobro, vivemos

pouco em cada uma de

nossas metades;

as vistas veem em dobro,

os olhos pestanejam,

o acaso é nada, corre

ao redor dos lagos

cabelos trançados, a menina

corre, o ar balouçando

nos vazios, os brados dobrados

o grito espargido.

a vida é feia, criança,

a vida é feia menina

seus olhos fechados;

a vida é um pouso

na água dos lagos





1989

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