domingo, 13 de junho de 2021

o pequeno metro

 

(Escultura de Maria Martins - foto de Cristiana Isidoro)



o metro de cem centímetros parecia-me ter bem mais deles, eu sei,

mas era pequeno e contrito como a piedade de um ímpio, e lembrei-me de alguém

medindo-se, mantido dentro de seus limites, equilibrado como um pêndulo.

de que me vale o metro, se ele não me mede a fé? mas mede meus passos,

e sei: nada sei sobre quantos me distam de ser salvo, perdão, ó pequena salamandra,

é minha alma quem zomba de ti e que te diz assim, não eu.

eu sei que em três ou quatro voltas em torno de mim, de meu gibraltar a meu pólo sul

(onde está meu desejo), depois de um extremo a outro de meus braços generosos e meu peito

magro, sim, você me mediria e me teria assim em medidas precisas, como meu corpo me tem

em mim, mas a alma sorri e espoja-se em sua sombra, pois dela você nada sabe, os passos

a serem dados à danação ou ao êxtase.



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