(Piet Mondrian - árvore vermelha -1908
Vou contar mais uma tola história; tola como todas as histórias que estão fadadas a permanecerem nas páginas de algum livro ou folhetim,
Tola tanto quanto aqueles que crêem nisto.
Um vento frio soprava nas árvores arrancando folhas e fazendo com que as lagartas voassem alto;
o garoto intrigou-se, e perguntou ao vento como este poderia ser tão malvado, apanhando as pequenas bichinhas e fazendo com que elas se fossem de seu ambiente para um lugar tão longe, tão longe que nem ele nem ninguém saberia dizer onde.
o vento aquietou-se em seu cantinho e pensou em sorrir um riso tristonho e vivido, mas não o fez;
o vento pensou também em fazer uma pequena preleção ao menino, explicando-lhe que lagartas são lagartas e os ventos são os ventos, e faz parte da existência dos ventos assim como da das lagartas este tipo de fenômeno, pois que aos ventos foi dado o papel (por quem?) de soprar e às lagartas foi conferido o (não menor) poder de resignarem-se ao seu destino, aguardando que, enquanto mastigassem folhas, uma brisa súbita as arrebatasse e as erguesse para um lugar qualquer – já que não importava a elas qual;
súbito, isto seria discorrer intelectualmente sobre algo que não tem lógica nem nunca será passível de ser explicado; pura e simplesmente,
é.
o vento olhou fundo nos olhos do menino
e o menino olhou fundo nos olhos do vento
enquanto o menino aguardava sua vez de ser soprado para algum canto sem nome.
ambos apreciavam quietos, com uma sabedoria indolente, a imponência simples do inalterável.
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