E não é que lá estava eu, sentado num banquinho de madeira
(Como se isso fosse a coisa mais importante do mundo)
Quando me descobri, descobri-me sentado num banquinho
De madeira;
Foi estranho;
Eu, me achando a coisa mais importante do mundo,
E descubro a coisa mais importante do mundo
Sentada num banquinho, fazendo nada (e em se tratando dessas coisa
A mais importante
Deve ter uma significação profunda e complexa o fato dela estar fazendo
Nada);
Comuniquei o ocorrido à minha mulher (como se isso fosse possível)
Mas ela riu de mim
E pediu-me que não a aborrecesse mais
Pois que tinha mais o que fazer (certas pessoas têm a mágica capacidade
De sempre terem mais o que fazer);
Ergui a voz a meus filhos e netos e a seus brinquedos de plástico
E carmesim purpúreo,
Mas eles não me ouviram.
Fiquei mais algum tempo sozinho com minha perplexidade.
Não, não me conformei: abri a porta da casa e saí às ruas
Tinha que avisar a todos de minha descoberta bizarra (quem diria!
A coisa mais importante do mundo – e, obviamente, aquela pela qual
O mundo rodava e as nuvens andavam, pela qual os orixás faziam previsões
E os soldados marchavam – ei-la inerte, passiva, com olheiras profundas,
Uma barriga flácida, a barba por fazer!); todos, todos, deveriam saber
Disto;
Eu gritei para todos os que passavam, rindo, assustando, e, quando isto
Não bastou, eu fui aos jornais matutinos e vespertinos, às revistas semanais
E às mensais; e, quando estes não me ouviram, eu acudi à sabedoria das
Emissoras de televisão dizendo-me um grande sábio, um conhecedor de
Oráculos; escrevi faixas, imprimi panfletos, realizei comícios,
Mas nada, nada adiantou,
Ninguém me ouviu;
Desacreditado, descrente, atravessei a soleira e fechei a porta que abrira
Com tanta força;
A mulher num canto, filhos de olhos esbugalhados espreitando do corredor,
Sentei-me no banco de madeira e, deste (aparentemente) simples banquinho,
Contento-me em contemplar a coisa mais importante do mundo
Sentada num banquinho de madeira
Fazendo nada.
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