sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Poesia

 

(Camille Pissarro - Kensington Gardens - London -1890)




E a poesia dormia

E sonhava,

E em sonho cavalgava louca

Solta em pradarias

E uma poesia louca delirava

A pobre poesia era só sonho, e sonhava

Com seu grande dia

O dia em que, libertada,

Poderia sair do que se dizia

Impedir-se de ser mediatizada

Por um sentido que a trairia.

A poesia – amor platônico? – ria deitada

Em transe, e se imaginava poesia.

Poesia não intermediada,

Poesia que o ar carregava, poesia vida,

Pois só a vida é poesia.

Mas nossa poesia, infeliz, não é vivenciada

E recusa-se a falar e, calada,

Só sonhava um sonho de maresia,

Uma maresia calma que a banhava

E cobria o sonho pouco desta poesia

De uma fina película de areia,

Areia fina,

Fria.



A poesia pouca e fria se deixava recobrir de areia

E a areia da maresia do mar da palavra porte forte de nossa pobre poesia

Calou-a, e ela se fez uma estrela marinha.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se o tempo chovesse

  (Suzanna Schlemm) Se o tempo chovesse,             possivelmente O tempo choveria longo,             choveria sempre. Se a chuva fosse o t...