Há um cheiro que se esconde dentro de mim, amargo,
De mim emana-se;
Há muitas e mutas cousas escondidas neste odor.
No odor que escapa de mim como uma líbelula afoga-se no
pântano,
Coaxam sapos sobre minha folhas;
Pode parecer tolo evocar tais imagens,
Mas de que se faz a poesia senão de uma série
De tais bobagens?
De tantas e tantas cousas outras, outras coisas
E enumerá-las pode ser uma tarefa
Arriscada.
No odor que de mim se exala esconde-se um fruto podre,
Fruto de podridão divina – a centelha da eternidade que
em mim se acende
E que em mim se apaguem todos os pontos luminosos, circunscrevendo
Meu pensamento simplesmente a uma meia dúzia de pares de
meias sujos,
O copo de leite esvaziado sobre a cabeceira, lençóis
amarfanhando-se
Num colchão preguiçoso.
Um amanhecer onde os corpos recusam-se a deslizar
Para dentro do mundo,
Para fora de si mesmos e de seu mundo compenetradamente
Único, particular.
No odor libélula que de mim foge, batendo as asas com
vigor,
Nesse odor fujão, coaxar matinal, tão amargamente
cotidiano e vulgar,
Esconde-se um outro odor, esse sim,
Imperceptível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário