segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Noite

 

(Albrecht Dürer - Melancolia I - 1514)




Cada noite é um grito rouco e fino

Do que dia que se foi,

Falando da dor da partida,

Grito ferino

Anunciando a luz que breve

Se fará parida.



Esta noite, em seu gemido calado,

Expõe uns caninos amarelos de sol;

O céu de sua boca vazado em furos,

Alguns homens pichando os muros

Sob os rasgos deste vasto anzol

Aninhando-se aonde o horizonte fecha um olho cego.



A noite, sedução de quem busca aninhar-se nela,

E dela faz seu recanto, refúgio, vento, vago

Subterfúgio;

Noite mãe de onde todo homem tem seu início

E seu fim,

Sem precipício;

Noite de rangidos, de tudo o que é vago,

Em mim trago a noite,

Tanto quanto ela me traz,

Em mim,

O tanto de mim

Onde eu a trago.


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