sábado, 7 de maio de 2022

(sem título)

 

(Marc Chagall)



Quando chegar, não bata a porta,

Por favor.

Seja silenciosa

Que tal antes um pequeno afago

Ou quem sabe um beijo

Por entre os olhos?

Podemos sentar-nos, frente a frente,

E entre um gole e outro

Sorver saudades amargas



Assente-se na minha poltrona;

Ela também é sua, afinal!

Relaxe,

Talvez eu esteja tenso

Talvez tremendo de febre

Ou bêbado, correndo ágil.

Talvez eu sequer esteja.



Mas não ligue para as formalidades;

Sem confissões, sem extrema-unção,

Nem uma praia deserta, ao luar

Ou um campo fértil, cheio de trigo,

Nada disso.

Quero morrer, viver essa experiência

Única e inusitada

Nesta selva, a única que sempre amei e amarei

E, quando estiver conduzindo teus caminhos

Por escuridões sempre presentes

E um verme ou outro, a esmo

Quero ver-te ao meu lado

E dar-te o último beijo.

E então o mundo estará mais leve.



(12.1984)

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