segunda-feira, 7 de junho de 2021

a viúva amamenta São Sebastião morto

 

(Agnolo Bronzino- Saint Sebastian)


eu sou morta, uma vez que uma parte de mim jaz

e uno-me em teu gemido ausente como uma cabra que bale;

meu seio é teu, pequenino, e tu o renegas

como o mundo te renegaste outrora, mas não temais

mais; nada mais tens a perder,

tudo o que tens hoje é o tudo que lhe coube,

quão magro és! eu sei que dia virá

onde o meu colostro será teu como este sangue

e ele brotará no teu dorso como petéquias em flor

e teu jazigo será florido,

tão perto tens meu seio de teus lábios,

mas a nós falta a vida, o calor do que é perpétuo,

o sopro que me fizesse leite e a ti voraz,

sumarento;

não, não me enganes, pequenino; e se não fosses a paz

onde te encerraram, eu diria que tu dormes,

não; tu dormes, sim; eu conheço este sono,

e me permito sorrir, pois sei tu mais próximo que em qualquer tempo

deste leite seco de meu seio,

sorve meu leite de dor ausente;

roçando meu seio em teu lábio,

sei que a vida é eterna,






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