terça-feira, 8 de junho de 2021

jesus morto contempla maria madalena

 

(Javier Marín)



eu te pediria tempo e paciência, para além do pesar

mas ao tempo cabe os mortos

assim como aos vivos a tolerância;

mortificada, te colocas entre o que sois

e seu devir desinente de ser,

mulher de olhos gastos.

eu te contemplo agora em meu corpo trespassado

e,

se eu fosse o verbo, tu me terias calado

se fosse o vento que sopra para além,

eu seria o pó,

ainda que não tão sereno,

eu te erodo as faces

como o mar escava uma falésia,

e roem tuas encostas;

escalavradas, em meus ouvidos moucos ecoam

os gritos das rochas tragadas pelas águas,

o cantar das pedras afogadas;

ruem as dunas.

minha dor cessa no primo precipício

aonde a tua se escancara;

rasgado o ventre mãe

corre a areia da memória (duna outrora)

atritando o tempo vítreo.

risca, maldito,

para que eu siga o teu traço duro

de tecelão.



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