(Fredrik Raddum - o poeta)
a poesia me é difícil como o sorriso
ou um menino sem nome, onde ela está?
eu vi o homem jogado num canto, roto
e todas as manhãs eu me confronto com
a miséria sussurante à minha volta: bom dia, bons dias.
onde há o espaço para meu vaso de crisântemos?
o olhar que eles me lançam não é piedoso, sequer de bondade,
eu vejo a fome nos seus olhos, eu vejo meus olhos
e desvio. mas que belo portão esse! é art-déco?
nesse cotidiano, as ameaças se sucedem
e eu soçobro: (*) peçam-me versos
(é a estupidez necessária de todo escritor).
mas veja: ali vai, cabisbaixa e faminta
a poesia, fêmea de olhos lânguidos
e onde a palavra vela! em que região?
na fronte o suor,
o rosto a abrasaria; o seio, creio, o pó,
os pés (como o sorriso) lançá-la-iam a esmo;
mesmo as mãos, cujas marcas
escavadas tão bem se prestariam às
paráfrases e metonímias, mas não!
os dias cairiam como grãos
e a erosão conta dela daria.
a miséria, bem o sei, não é verbo,
substantivo;
cabe o conformar-se ao papel o verso,
pois o poema persiste
em sua sina errante de ser vivo.
(*) A partir desse ponto, o poema está escrito a mão, com várias correções.
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