domingo, 5 de dezembro de 2021

poema triste


(Tetsuya Ishida)


na intensidade da poesia mesma,

escrevo uma poesia

que se pretende igualmente intensa



em minha tristeza de tango quieto,

delineio o que bem pode ser

um pedacinho do mundo, um cordãozinho barato.



o ar que respiro enquanto escrevo aqui está,

e contempla o resto do ar

e tudo lhe soa tremendamente indistinto.



em minha tristeza de menino sem doce,

eu olho.



a poesia que se apresenta aqui bem poderia ser

o copo de água ao sedento, brindado

com um sorriso manso.



ela poderia ser um porquinho-da-índia fugitivo

e inquieto, tão esvaziado dos adjetivos

que dele vemos emanar, um a um;



ela poderia ser aquele momento de silêncio.



ela poderia ser o bibelô lançado a um canto,

a xícara de asa quebrada, uma folha desprendendo-se

e tornando ao solo de onde veio seiva, um dia,



ela poderia ser a pergunta boba, a queda, o tropeção,

ou o caminhar sem rumo.



e meu poema triste contempla tantos outros poemas nobres

e resigna-se a comentá-los, fazê-los vistos, para que cada vez mais

a poesia volte ao mundo.



e meu poema triste sorri uma lágrima de embevecimento.



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