na intensidade da poesia mesma,
escrevo uma poesia
que se pretende igualmente intensa
em minha tristeza de tango quieto,
delineio o que bem pode ser
um pedacinho do mundo, um cordãozinho barato.
o ar que respiro enquanto escrevo aqui está,
e contempla o resto do ar
e tudo lhe soa tremendamente indistinto.
em minha tristeza de menino sem doce,
eu olho.
a poesia que se apresenta aqui bem poderia ser
o copo de água ao sedento, brindado
com um sorriso manso.
ela poderia ser um porquinho-da-índia fugitivo
e inquieto, tão esvaziado dos adjetivos
que dele vemos emanar, um a um;
ela poderia ser aquele momento de silêncio.
ela poderia ser o bibelô lançado a um canto,
a xícara de asa quebrada, uma folha desprendendo-se
e tornando ao solo de onde veio seiva, um dia,
ela poderia ser a pergunta boba, a queda, o tropeção,
ou o caminhar sem rumo.
e meu poema triste contempla tantos outros poemas nobres
e resigna-se a comentá-los, fazê-los vistos, para que cada vez mais
a poesia volte ao mundo.
e meu poema triste sorri uma lágrima de embevecimento.
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