quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

A gente senta no banco da calçada...

 

 (Javier Marín)


A gente senta no banco da calçada, num pedaço de sarjeta

e pensa na vida e em tudo que a cerca de fumaça

E neblina fria.

A gente para num canto da esquina e olha os carro passando tão rápido...

(Nem sei te dizer quanto)

A gente se descobre empacada como um burro velho num pichado de musgo,

E se pergunta o que fazer;

A gente rasga as roupas e xinga todo mundo bem alto na pretensão de se sentir mais livre,

E se percebe somente um pouquinho mais tolo que antes;

A gente que pensa ser tantos e tanto, tropeça num pedinte

e sente tanto, tanto nojo de nós mesmos......

A gente que sorri com os dentes perfeitos num peito enegrecido e cinzento,

a gente que só consegue sonhar com aqueles minutos de paz depois do expediente,

a gente que encontra o cinzeiro cheio de bitucas de ilusões amassadas nas mãos,

a gente que

a gente

a gente

a gente.



A gente que se cansa de tudo isso e se rasga nas costas pra ver se saem umas asas com muitas penas de qualquer cor, pra gente voar mais alto,

e percebe que só tem sangue.

A gente que pensa deveria ter um eco acoplado para poder crescer bastante, e ficar tão grande

quanto realmente é.

A gente, sentada num banco da calçada, olha os carros passando bem depressa e fica só pensando no que fazer,

enquanto mastiga o musgo do muro (que tem gosto de piche, cinzas,

sangue.)


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