segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

o espírito santo, na forma de uma pomba, busca fecundar a virgem após a deposição de jesus morto.

 

(Carlos Barahona Possollo)



estava na colina quando te vi vertida,

e a dor corrompe como a chuva ácida

sobre o solo despido: seu corpo hoje não é a chaga

de seu ventre (mãe outrora), mas jorra.

deita-te, mulher d' alma pálida;

não faça da tua face o escândalo,

nem te surpreendas o gozo que te lanço;

assim como lançastes o corpo ao solo,

eu te lanço o sêmen para que o milagre se faça;

o que busco entre teus lábios entreabertos,

no silêncio abrigado, nas tuas entranhas

(pois já fostes mulher, mãe, e hoje

nenhuma palavra te apaziguaria a paz),

é menos esta fala que te soaria pouca;

meu anseio é retornar-te

ao mundo onde encontrarás teu nome

e, chamada, a paz tornaria à origem

pois o tempo se desfaria e,

em meu engodo,

seria como se tu nunca tivesses conhecido

o mundo mesmo que hoje carregas à treva.

permita-me afogar tua sombra no meu lago pouco,

mulher de olhos vitrificados,

antes que soe a hora

e eu parta – grão – para o lado da ampulheta

que a sombra mesma da vida encobre,

até que a morte também caia.




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