quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Vede como somente os restos de lixo urbano

 

 

 (Escultura de Hans Bellmer - the doll, c.1936)



Vede como somente os restos de lixo urbano

Atingem o nível maior de perplexidade perante seus donos

E proprietários?

Quietos, silenciosos, espreitam os portões e vielas

Vigiam as sarjetas,

Atentos a cada movimento.

Olham as crianças correndo nas ruas,

As mulheres com seus sacos de compras e brincos de strass,

Os homens engravatados beijando os filhos sonolentos,

Os carros rodando a esmo;

E estes, perplexos, estes azuis, pretos e marrons sujos

Fedendo a laranjas e cinzas de cigarro (cheiro de certos maridos)

Não compreendem como tantos, em chintz ou lycra, no brilho ou na sombra,

Correm e andam, sentam e param, riem ou fingem sorrir.



Tanta energia desperdiçada,comentam entre si em seus redutos particulares,

Seus guetos;

Tantas palavras, gestos, atos, vácuos, vácuos,

Vácuos;

Estes, pensam eles, de tudo fazem para preencher seu intenso

Vazio;

E, no instante derradeiro de sua partida, quando homens alaranjados

(Uma cor entre o sóbrio e o alegre)

Capturam-nos por suas pontas, por vezes por suas alças,

Eles rompem com sua própria perplexidade,

Mas recusam a contemplar-se;

No seu instante de ida, eles mais intensamente observam a pequenez do homem,

A igualdade de suas condições

E riem, riem muito.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se o tempo chovesse

  (Suzanna Schlemm) Se o tempo chovesse,             possivelmente O tempo choveria longo,             choveria sempre. Se a chuva fosse o t...