sábado, 18 de junho de 2022

tristeza

 

(Edvard Munch - melancolia)


deveria pensar por mais trinta ou quarenta anos antes de me aventurar a dizer

de mim. mas aí outro diria, e nem de mim diria, diria de outro

com uma lembrança passageira. uma voz de mulher canta em mim

(e, pasme você, nem sou adélia prado). pensei nos domingos

dias de natureza triste, de tristeza fininha como o miado de pequenos gatos

que habitavam o quintal. eu não mais quintal.

estou triste e nem é domingo, dia onde espelho em mim

o miado escorrido das longas tristezas. estou triste e me confundo

com meu sentimento. se alguém me olhasse os olhos, pressinto que não

veria a mim; talvez, isso sim, me ouvisse baixinho.

continuo a pensar algumas tristezas, e a vertê-las: certo ocaso numa

praia do sul, os olhos longínquos de borges, um pequeno grilo esmagado

por descuido. penso também algumas tristezas mais distantes, mais alheias,

mas não me parecem autênticas. a quem vier ler este texto

evoque para si algumas lembranças, sinta marejarem os olhos.

isso é tudo que não me cabe fazer.

só posso sugerir.


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