terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Ao nascer

 

  

 (Edvard Munch - the-women,1895)



Ao nascer

A beleza de uma tez infantil

Olhos azuis a refletir a luz do céu

Aos dez

Corria pela casa feliz

E o orgulho de uma de uma inteligência em botão

Que principia a desabrochar

Aos vinte

Garotinha cantada como mina

Pelos portões e barzinhos

E a Lua cheia a espelhar

Pérola noturna do sorriso teu.

Aos trinta

A primeira ruguinha desponta implacável

E sente-se que a sua jovialidade

Sofre o primeiro baque

Perante a implacável (também) birthday date

Aos quarenta

Nem tudo é felicidade

Vaidade

A atormentar a tez que se dilui

Num mar de imperfeições

Talhada pelo tempo

Que já se esquivava nas trevas das

Lágrimas amargas (ou talvez não tão)

Aos cinquenta

Não mais a jovem de olhos celestiais

Cabelos escuros como a noite

E o sorriso lunar (cheio);

Os cabelos já mostram traços de Lua

Os dentes já atingem a noite

O sorriso cada vez menos celestial

Apesar dos olhos ainda evocarem estrelas

Um suave piano

Ainda que solitário

E tocado por mãos que não mais existem

Aos sessenta

A lua já dominava o seu cabelo

Os dentes já haviam sido devorados pela noite

Junto com o sorriso

Felicidade não mais.

Tudo ia assim

Tudo era assim

Tudo estava assim.

Até que, num dia qualquer,

Veio o céu

E tomou, suave, as estrelas

Para iluminar o crepúsculo que se aproximava



E ele veio

E, com ele, uma noite onde faltavam duas estrelas

Que tocavam piano

Para o Sol que se ia.



E se foi.


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